Chat dos Tronos

A História de Desgraça
Há alguns anos um estrangeiro chegou às Ilhas de Ferro com uma mulher. Ela parecia muito infeliz ali, e era de uma beleza rara. O homem tinha cabelos negros levemente ondulados, e olhos sempre ocultos por uma longa capa que ia até seus tornozelos.
A mulher vivia trancada no navio do homem, e ele não deixava ela saísse, por ciúmes e por receio que ela contasse quem ele realmente era. Todas as manhãs ele saía cedo, e carregava consigo uma bela gata toda branca. Era um animal lindo, que atraía os olhares quando ele, todo de preto, carregava o animal alvíssimo em seus braços. Porém ela era arredia, o arranhando e tentando escapar. Porém ele a segurava firme e saía para caminhar pela praia.
Perto do por do sol ele voltava com ela e não aparecia mais. Então caminhando pelo convés apenas com um grande cachorro negro durante a noite, era possível ver os cabelos de um loiro branco da mulher. Ela tentava sair, mas o cachorro rosnava e nunca permitia que ela partisse. Ela então se sentava e ele pousava a cabeça em seu colo e ela o acariciava à luz da lua.
Ambos ficaram nas Ilhas por um longo tempo, e nunca eram vistos juntos. Ele havia encomendado um navio, um grande dracar para levá-los de volta para o lugar de onde vieram. Logo se espalhou a notícia de que o homem vivia à procura de uma velha mulher que tinha a fama de bruxa e feiticeira, porém ninguém sabia o porquê.
Certa vez a viram vagando por perto de onde o navio estava sendo construído, mas logo ela sumiu, e deixaram isso para lá. Até que um dia o homem saiu e parecia tão perturbado! Estava sem a capa, mostrando um corpo magro e forte, com roupas escuras e feições duras. Uma barba hirsuta cobria seu rosto, e seus olhos era de um castanho claro, quase amarelos. A gata estava bem presa em seus braços, estes arranhados e sangrando, mas ele correu e entrou no bosque.
O céu havia amanhecido claro, porém logo o tempo fechou, e isso atrapalhou um pouco os construtores. O navio estava pronto, com pouquíssimos acabamentos por fazer. A chuva começou a cair quando eles terminaram a parte de fora, e então entraram para acabá-lo por dentro.
Bem nesse momento o homem apareceu correndo para o porto, arrastando a jovem, que parecia lívida. Os dois estavam lado a lado, e pareciam opostos, ela tão clara e delicada, ele tão escuro e bruto. Ambos subiram para o convés, e estavam para fugir quando a tal bruxa apareceu na orla do bosque. Estava ensanguentada, claramente muito ferida, mas com forças para olhar irada para o casal. Ergueu uma mão e apontou para o enorme dracar. Era uma embarcação notável, feita com material de primeira e os melhores construtores da época. Um estrondo se fez ouvir, um raio caindo numa árvore alta, no mesmo momento em que a velha bruxa caía no chão. Ela ainda olhava para eles no momento em que desceram para a parte interior do navio.
A bruxa soltou um grito agudo, enregelante, e caiu morta, enquanto uma tempestade que há muito não se via caía na baía.

Quando a tempestade passou, as pessoas desceram ao interior do navio. A cena que encontraram lá foi assustadora. Todos os construtores e o casal estavam mortos, caídos no chão. Não havia sinais de luta ou qualquer tipo de ferimento. Não pareciam envenenados ou coisa do tipo, mas cada um deles exibia uma expressão do mais puro terror.
Naquele mesmo dia outro capitão comprou o dracar, mandando que fosse pintado de preto, e o nomeou Desgraça. Todos acharam que era uma má escolha, mas ele riu e disse que não acreditava nisso.
Um quarto de lua depois o navio passou por uma tempestade terrível. Chegou à deriva na praia, totalmente vazio. Os corpos foram sendo trazidos pelas ondas com ele.
Os outros donos tiveram fins terríveis, ou não, alguns simplesmente o venderam quase de graça, e foram os que tiveram mais sorte.